Manhã destas, me deparei com a bagunça geral de meus tênis largados banheiro afora e, enquanto me xingava pela desordem, atinei para a sujeira em que estavam virados meus calçados de corrida. Cabedais brancos encardidos de quilômetros e quilômetros sem água (ultimamente, nem tantos, pois as costas me impedem de correr o quanto eu gostaria), os coitados não brilhariam em nenhum concurso de beleza ou elegância.
Para deixar as coisas claras, gosto deles assim mesmo. Mostra que estão em uso, que labutam pelo bem de um corredor, que não são almofadinhas de ambientes imaculados e refrigerados. Costumo lavá-los de quando em vez, movido em geral antes por cuidados higiênicos do que estéticos.
Depois de correr em dia de chuva, por exemplo, cruzando por sarjetas imundas e mergulhando em poças malcheirosas, é mister dar um banho no pisante. Se estão por demais embarrados, também há que lavá-los. Sujeirinhas do dia a dia, porém, são suportáveis por semanas sem conta. Será?
Fiquei teorizando que até era bom para os tênis ficar um bom tempo sem ver água. Na dúvida, resolvi consultar especialistas da Nike e da Asics, que muito rapidamente responderam a uma bateria de perguntas que formulei. E calhou de os caras me darem razão. “Lavar o tênis constantemente prejudica a durabilidade do produto, uma vez que a cada lavagem existe a perda/desgaste de certas propriedades do calçado”, diz a Asics.
E a Nike detalha a questão: “A lavagem acelera o desgaste, mas a forma como se limpa é que faz com que esse desgaste seja mais ou menos acelerado. O processo de esfregar, molhar-secar e torcer o calçado não é recomendado e pode acelerar o desgaste do cabedal e do sistema de amortecimento”.
Ok, até aí morreu o Neves, como se dizia quando eu era guri lá no Rio Grande. Concordamos todos. A questão é: qual a frequência desejável ou recomendada? Dessa pergunta fugiram Asics e Nike, ficando ambas numa resposta mais impressionista e menos científica. Dizem que não há uma frequência específica, depende do uso etc. e tal, o que faz sentido. Depende também do estilo do usuário; há quem possa ficar incomodado quando o branco vira cinza ou se o calçado assume todo aquela inespecífica cor-de-burro-quando-foge.
Se você tiver de lavar, então, tudo bem, sirva-se. Mas, por favor, NÃO deixe seu tênis de molho. Quanto menos água melhor. Use sabão neutro e lave as palmilhas em separado, assim como os cadarços.
A Asics explica tintim por tintim a razão e o por quê dessa aquafobia: “Todo o calçado de corrida possui uma grande camada (normalmente na cor branca) que fica localizada entre a parte de cima do calçado e a sola. Essa camada é denominada de entresola e, de forma geral, é confeccionada em EVA --material que possui alto poder de amortecimento, auxiliando na redução do impacto. Esse EVA, quando em contato com a água, funciona como uma esponja, ou seja, ele absorve todo o líquido. Resultado: o calçado fica muito mais pesado e, ao longo do tempo, esse material perde as propriedades de amortecimento. Outro ponto que sofre com a lavagem é a parte de cima do calçado, denominada cabedal. O calçado de corrida normalmente é confeccionado em tecidos aerados, com reforço de materiais sintéticos especiais que oferecem maior conforto. Ao lavarmos o calçado constantemente, iremos desgastar esses materiais, causando a descostura, furo ou até mesmo a perda do toque macio dos tecidos e materiais sintéticos”.
E a Nike orienta sobre os procedimentos: “Para limpar, deve-se usar um pano ou esponja macia úmida com água fria e com sabão neutro. A limpeza deve ser feita somente na parte externa. Para retirar o sabão, o correto é utilizar outro pano úmido. Nunca se deve enxaguar o tênis na torneira. O ideal é usar o mínimo de água possível. O uso da máquina de lavar não é recomendado e também pode acelerar o processo de desgaste. Para reduzir odores de transpiração, é recomendado deixar o calçado descansar em local arejado e na sombra por 12 horas logo após o uso. As palmilhas podem ser retiradas”.
Enfim, qualquer que seja sua opção, siga feliz pelas trilhas da vida.
retirado do blog http://rodolfolucena.folha.blog.uol.com.br/
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